Dessa vez vou falar de algo que une o gênero da coluna à um estilo de jogo que é, de longe, o meu preferido, o “FPS”, ou First Person Shooter, tiro em primeira pessoa, e para os menos envolvidos, jogos de tiro cuja perspectiva é a partir dos olhos do personagem.
As maiores franquias e sucessos de venda na área do PC Gaming são do gênero FPS. E cada vez mais essa realidade vem se estendendo ao mundo dos consoles. Para fim de ilustração, vou citar alguns exemplos desta tendência: a série Call of Duty, com seu aclamadíssimo “Black Ops”, a série Modern Warfare (e o recente lançamento do terceiro título da franquia), e outros mais antigos que fizeram nome nos PCs, sobretudo nas lanhouses deste Brasil, como o Counter Strike, (que começou como um mod de half life) e seu sucessor Counter Strike: Source. Estes jogos compoem apenas um quadro geral do que podemos dizer que realmente vendeu bem.
Porém neste mar de jogos envolvendo guerra moderna, fisica realista, personagens nervosinhos, overdoses de testosterona, efeitos visuais, ação a base de script, armamentos reais ou experimentais, conspirações mundiais e afins, alguém resolve contrariar esses elementos que fazem qualquer jogo vender bem e fazer algo que rompa com essa tendência.
Estou falando de “Zeno Clash”. Este jogo é tão não-convencional que nem mesmo o rótulo “FPS” se aplica com exatidão. Zeno Clash está mais para um “First Person Fighting Game”, ou jogo de luta em primeira pessoa, um tipo que lembraria o clássico “distribuidor de porrada pra vagabundo” dos arcades “Final Fight”, mas pela perspectiva dos olhos do personagem em vez do 2d.
O jogo saiu para PC inicialmente inicialmente (2009) e pode ser comprado via Steam, e foi portado para Xbox360 com o nome “Zeno Clash: Ultimate Edition” (2010) com armas, ataques e inimigos novos, além de um modo co-op online e offline.
Zeno Clash foi desenvolvido pelo estudio independente chileno ACE, usando o aclamado engine gráfico “Source”, que ganhou notoriedade em games como Half-Life 2, Left 4 Dead e Left 4 Dead 2, Portal e Portal 2 e o próprio Counter Strike Source, e inicialmente passou a ser distribuido digitalmente (compra de download) via Steam.
A ACE Team apostou alto: colocar o jogo em um mundo jamais visto parecido em qualquer outro game, com um estilo visual diferente de tudo que já foi feito. E acertou em cheio. Para alguns Zeno Clash está mais para uma viagem psicodélica, mas tem uma expressão que explica muito bem: é um game que se passa em um mundo “fantástico”, o que é relativamente diferente de um mundo “de fantasia”. Ou seja, sem dragões ou duendes aqui. Resumindo, Zeno Clash é um jogo estranho, e isso é o que torna ele uma experiência única. Tudo em Zeno Clash parece ter sido concebido a base de muita droga inspiração.
O jogo se passa em um mundo fictício chamado Zenozoik, no qual o jogador encarna o protagonista Ghat, que está fugindo de sua cidade natal por ter matado lá uma criatura gigante (e aparentemente hermafrodita), que no contexto do jogo é a mãe de todos os que moram nesta cidade. Esta criatura é chamada de “Father-Mother”.
Ghat é um personagem que possui uma personalidade altamente elaborada e cheia de auto-questionamentos. Uma diferença brutal para a personalidade rasa e vazia dos novos Alex Mason, Jason Hudson ou Soap Mactavish, de Black Ops e Modern Warfare 2 respectivamente.
Ghat está sendo perseguido por seus “irmãos”, habitantes da cidade. Ghat é humano, mas a maior parte de seus irmãos, embora tenha aparência humanóide, com cabeça, tronco e membros, não é humana, (um deles tem cabeça de pássaro, o outro parece uma doninha) o que nos faz concluir que embora sejam filhos da mesma mãe (e pai), “Father-mother” consegue gerar diferentes espécies. Pode parecer absurdo, mas este é todo o centro da trama de Zeno Clash.
Durante sua fuga, Ghat cruza ainda com outro grupo, habitante das florestas de Zenozoik, chamado Corwid of the Free. A concepção deste grupo é o que mais mostra a capacidade e originalidade dos desenvolvedores deste jogo.
Os “Corwid of the Free” tem uma história a parte. Eles são um grupo de pessoas que mostram um conceito totalmente maluco do que pode ser a liberdade. São livres de tudo, a tal ponto que são livres da própria razão, ou do senso comum. É a liberdade levada ao extremo, chegando ao ponto da insanidade. Cada Corwid decide por conta própria fazer qualquer coisa que queira, e se quiser, pelo resto da vida. Um Corwid citado em cutscenes chama-se Oxameter, e tudo que ele faz é… andar em linha reta… indefenidamente… e pra sempre… Um outro decidiu que quer ser invisível, por isso ele arranca o olhos de qualquer um que ele encontra. Outro simplesmente come pessoas. Durante o jogo, a namorada de Ghat lhe pergunta porque eles fazem isso, ao que ele responde: “E porque não?”. Na trama do jogo, Ghat é atacado por estes corwids, mas vou poupar os detalhes dos porques para evitar spoilers.
A jogabilidade é linear, e de tempos em tempos “rounds” de luta acontecem. Em momentos assim você so pode prosseguir se derrotar todos “os” ou “o” inimigo que aparecer. Antes de cada luta, uma tela introdutória de “fulano VS ciclano” aparece, uma tela que lembra muito a dos jogos de luta tradicionais. Existem diversos movimentos, como socos, chutes, ganchos e golpes de contra-ataque, sendo que alguns deles são aprendidos ao longo do jogo. Existem algumas armas de projéteis, bem estranhas também.
Zeno Clash ganhou diversos prêmios por sua originalidade. Foi nomeado finalista no anual “Independent Games Festival” Na categoria de “Artes Visuais”, em 2009. Entre outros, ganhou o prêmio da PC Gamer, de “Game Independente do Ano de 2009″. A mesma revista fez um apanhado dos “100 melhores games para PC de todos os tempos”, e Zeno Clash estava lá figurando ao lado de clássicos cult do PC como Monkey Island 2 e Grim Fandango, o que foi motivo de muito orgulho para os integrantes da independente ACE.
Por ter um mundo altamente psicodélico/maluco, personagens únicos e um visual diferenciado, digo que Zeno Clash é altamente recomendado para qualquer gamer que esteja saturado do mundo “realista” transportado para os games, fato tão comum nestes jogos de “guerras modernas” (citando o Edu no podcast#09).
Até a próxima!
Trailer Gameplay
Trailer focando os Corwid of the Free
Adendo da versão Ultimate Edition, mostrando o novo modo Zeno Rush (Xbox360)